sexta-feira, 14 de novembro de 2008

HSBC cria carteira renda fixa com seguro-desemprego

Num ambiente de maior aversão a risco, em que o investidor brasileiro avalia as conseqüências da crise financeira global no seu bolso - especialmente no binômio emprego-renda -, o HSBC ultrapassa a fronteira do investimento puro e coloca na rede um portfólio de renda fixa com seguro-desemprego. O reforço na família de fundos vem na contramão de uma tendência que se observa no mercado, de os grandes bancos de varejo privilegiarem a captação por meio da emissão de Certificados de Depósitos Bancários (CDB). A nova carteira também surge num momento em que o próprio setor de fundos tenta se reinventar, após a sangria de recursos, notadamente em multimercados, renda fixa e ações.
Pelos dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid), os resgates dos fundos superaram as captações em R$ 58,8 bilhões no ano até outubro. No caso do HSBC, que reúne um patrimônio de R$ 58,4 bilhões (até setembro), as saídas limitaram-se a R$ 2,872 bilhões, até porque não houve uma abordagem agressiva da instituição na oferta de CDB, diz Pedro Bastos, principal executivo da HSBC Global Asset Management no Brasil.
O novo fundo, batizado de HSBC Tripla Vantagem, traz a promessa de ser um dos carros-chefes da gestora no país. Desenhado para atrair o público de varejo, o portfólio aceitará aplicações a partir de R$ 100,00 e terá uma taxa de administração de 3% ao ano. Nesse custo já está inclusa a fatia referente ao prêmio do seguro, que também terá cobertura por morte acidental ou invalidez permanente. Trata-se de um primeiro produto da crise? Bastos diz que "essa não é uma oferta oportunística", criada às pressas porque havia uma crise batendo às portas. Ele conta que o casamento investimentos/seguros foi pensado há cerca de sete meses, dentro de casa mesmo, não havendo nada semelhante nas demais unidades do grupo inglês no mundo. "A crise só potencializa a importância do produto", arremata o principal executivo da HSBC Seguros, Fernando Alves Moreira.
Numa fase em que o setor de fundos precisa dar um salto qualitativo para reter cotistas, a associação das duas áreas do banco tem a finalidade de imprimir também no varejo o conceito de gestão de riquezas, acrescenta Bastos. "É preciso enxergar o cliente não só por meio de uma alternativa de investimento que dê 102%, 103% do CDI, mas também pensar num relacionamento alternativo, acompanhando seus ciclos de vida, com seguros e previdência", afirma, sinalizando que outras carteiras do gênero podem surgir dessa experiência. Ele evita estimar a captação, mas confia que o fundo tem grande apelo para trazer nova base de clientes para a instituição.
Para contar com o benefício do seguro-desemprego, o aplicador, assalariado ou autônomo, terá de alcançar um saldo médio de, pelo menos, R$ 3 mil no fundo. A partir disso, a indenização é escalonada, variando de R$ 1,5 mil a R$ 24 mil (para um valor médio aplicado igual ou superior a R$ 48 mil), pagos em seis parcelas. Para receber a indenização por desemprego involuntário há uma carência de 30 dias e de 15 dias para incapacidade física por acidente. Desde o momento da contratação, o investidor já conta com a cobertura por morte e invalidez por acidente. Para aplicações inferiores a R$ 3 mil, a cobertura é de R$ 2,5 mil, e, para investimentos acima disso, de R$ 50 mil.
Com essa combinação, a seguradora, por meio de uma apólice coletiva, amplifica também o seu espectro de segurados, diz Moreira - e sem qualquer esforço de vendas adicional. Os dois executivos não abrem a divisão da receita auferida com a taxa de administração, alegando ser um segredo estratégico.
A política de gestão do fundo será ativa em renda fixa, compondo a carteira com títulos públicos e até 49% com papéis de crédito privado de baixo risco. A meta é proporcionar um retorno líquido próximo ao CDI. "O jogo mudou, não basta buscar rentabilidade de curto prazo e sim uma cultura de investimentos", diz Bastos. Ele faz a autocrítica do setor, que, baseado na multiplicação dos multimercados, cresceu rapidamente até 2007, vendendo retornos acima do CDI. "Nem todos os investidores estavam preparados ou entendiam os riscos que corriam e daí o efeito sanfona." Sem que o mercado brasileiro conte com instrumentos suficientes de diversificação que evitem a alta correlação entre os ativos, ele considera que a aplicação em alternativas no exterior - como arbitragem de moedas, títulos de crédito privado e público, tais como debêntures ou bônus - pode ser o caminho para que os fundos mistos encontrem um ambiente mais saudável no pós-crise.

Nenhum comentário: