Cresce o interesse da população em garantir uma aposentadoria segura e justa. Em momentos de incerteza econômica, o mercado vende a segurança do baixo risco
LUIZ SILVEIRA E LUCIANO MÁXIMO
SÃO PAULO
Nem mesmo a crise financeira global parece ameaçar a evolução da previdência complementar no Brasil. Ao contrário. Em momentos como o atual, de incertezas sobre o desempenho das aplicações de curto prazo, ganham ainda mais destaque os investimentos de longo prazo. E a previdência é aquele que mais se enquadra no perfil de risco reduzido, por conta do extenso período de contribuição, tradicionalmente voltada para garantir uma aposentadoria complementar ou garantir projetos de vida diversos, como o custeio da educação dos filhos dos aplicadores.
Prova disso são os números da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), que mostram que, em setembro, no início da crise internacional, os planos de Previdência complementar brasileiros captaram R$ 2,4 bilhões, 23,2% acima do mesmo mês de 2007. No acumulado dos três trimestres deste ano, o crescimento chega a 19% sobre o mesmo período do ano passado.
Cada vez mais grandes bancos - como o Bradesco, líder absoluto no segmento, com market share de 35,27% em captações -- aproveitam a escala de seus negócios para popularizar o mercado de previdência privada. As instituições bancárias e seguradoras independentes disputam o mercado palmo a palmo para oferecer diferentes tipos de produtos a públicos que antes tinham que se contentar apenas com a previdência pública para garantir alguma renda adicional após deixar o mercado de trabalho.
Nessa linha de crescimento, o avanço de renda da classe C transforma essas faixas da população nos mais novos alvos das companhias de previdência privada. Aos poucos, como aponta o vice-presidente da Fenaprevi, Renato Russo, esse tipo de investimento está deixando de ser exclusividade de executivos e profissionais de alta renda para se tornar uma opção essencial para a garantia de renda na velhice de toda a população. Já há planos de baixo investimento acessíveis para aqueles que querem apenas complementar a renda oferecida pela Previdência Social, com contribuições mensais a partir de R$ 10.
"Alcançar este segmento é mais um objetivo de educação financeira. Temos que olhar para essa questão e ampliar o leque de produtos, na perspectiva de que a classe C de hoje não será a classe C de amanhã, graças à mobilidade social. Mais recentemente, passamos a enxergar a classe média baixa como uma massa cada vez maior de novos clientes que procuram iniciar o seu planejamento financeiro de longo prazo", analisa Renato Russo.
Mas a crescente preocupação do brasileiro em entrar com maior segurança financeira na terceira idade não decorre apenas de novos produtos e campanhas publicitárias promovidas pelas empresas de previdência privada. O envelhecimento da população está intimamente ligado a esse processo, e também está exigindo adaptações dos planos a uma expectativa de vida crescente: os segurados estão vivendo mais, e recebendo o beneficio da previdência por mais tempo.
Também colabora para a disparada do mercado de Previdência privada no Pais a adoção de planos como beneficios corporativos oferecidos pelas empresas a seus funcionários, dentro das políticas de retenção e atração de talentos. E não só as grandes companhias, mas também muitos pequenos e médios negócios já enxergam na previdência privada uma ferramenta acessível de recursos humanos. "E uma questão cultural. Nos Estados Unidos, por exemplo, os planos de Previdência privada das empresas aos empregados são os complementares, enquanto os produtos individuais são considerados suplementares, mais uma opção de investimento", comenta Edson Franco, presidente da Real Tokio Marine Vida e Previdência.
Por fim. para aqueles que ainda tem dúvidas sobre as estrategias de investimento que devem adotar agora e o papel que a Previdência privada pode ter neste planejamento, um artigo do professor da USP e ex-secretário de Previdência Complementar do Ministério da Previdência Social, José Roberto Savoia, esclarece. "Quanto antes se iniciar a poupança voluntária, melhor será o resultado final. Não há políticas de educação financeira no Pais, apenas iniciativas isoladas. Nossa cultura não valoriza o habito de poupar. Nossos jovens são impelidos ao consumo e valorizam o imediato, poupando muito pouco. É imprescindível alterarmos esta cultura e incentivarmos hábitos saudáveis de poupança".
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
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