sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Perda com derivativo eleva busca por seguro

A lista de empresas que perderam dinheiro por causa de desacertos de seus executivos nas manobras com derivativos e outros tipos de operações aumenta à medida que os balanços são conhecidos pelo mercado. Somente a conta abertamente assumida das transações com ativos futuros, apelidadas de exóticas por uns ou de tóxicas por outros em função dos contornos mais graves da crise atual, totaliza perdas de mais de R$ 7 bilhões, considerando Sadia, Aracruz, Votorantim e Vicunha.
No mesmo sentido, a demanda por proteção contra tais riscos também está aquecida. Nos últimos seis meses, a corretora Marsh já fechou 50 apólices e recebeu o dobro de consultas em relação ao ano passado para o produto Directors and Officers, também conhecido por D&O, modalidade de seguro que protege pessoalmente diretores que derrapam e saem da pista em suas atividades, comprometendo o resultado ou a imagem das instituições que representam.
Em entrevista à Gazeta Mercantil, o presidente da Marsh para o Brasil e América Latina, Thomaz Menezes, afirma que a crise financeira e os casos recentes de perdas com derivativos elevaram a demanda pelo D&O. "Com tudo que está acontecendo nos mercados financeiros, as empresas passam a enxergar esse seguro como uma proteção importante." Atualmente, cerca de 4 mil companhias optam pelo seguro no País, responsável por quase R$ 100 milhões em prêmios no ano passado e R$ 60,4 milhões até setembro.
O executivo da Marsh também revela que a companhia vai faturar R$ 1,5 bilhão no Brasil em 2008, 15% acima do desempenho do ano passado, e US$ 2,4 bilhões na América Latina - um aumento de 10%. Menezes conta ainda que a corretora, pertencente ao grupo Marsh & McLennan Companies, atua com a estratégia de segmentação e foco em consultoria de risco, além de apostar no crescimento do mercado aberto de resseguros. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Gazeta Mercantil - A Marsh foca algum segmento específico do mercado no cenário atual?
Nos últimos três anos, estamos segmentando nossas operações de dentro para fora, de acordo com a necessidade do cliente. Ou seja, atendemos demandas diferentes. Temos uma base consolidada em quatro segmentos: várias modalidades de seguros corporativos, massificados [varejo], benefícios [vida e saúde] e pequena e média empresa. Há também os itens de riscos financeiros. Aí há o Directors & Officers. Temos recebido muitas consultas de empresas que no passado não enxergavam a necessidade de ter um seguro desse tipo, mas com tudo que está acontecendo nos mercados financeiros elas passam a enxergar esse seguro como uma proteção importante. Nos últimos três meses tivemos mais de 50 novas consultas.
Gazeta Mercantil - É possível associar os atuais casos de perdas com derivativos a essa demanda?
Empresas que no passado tinham nos consultado para obter explicações sobre o produto já pediram cotação. Empresas que no passado tinham dúvida se aumentariam o valor de cobertura hoje já pedem para aumentar os limites. Alguns dizem que não há sinistros nesse segmento, mas estamos vendo na mídia que eles estão acontecendo. A exposição de risco destas empresas aumentou em conseqüência do estrago da crise financeira, mudança de regras contábeis e aumento da repressão de órgãos reguladores e fiscalizadores.
Gazeta Mercantil - Que tipo de empresa busca essa proteção?
Essas apólices já são amplamente difundidas nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, são empresas brasileiras e multinacionais de médio e grande porte, geralmente de capital aberto ou expostas à Bolsa de Nova York, que obriga a contratação do D&O. Mas agora existe um movimento interessante: empresas menores estão demandando. O produto trabalha a proteção individual do diretor, que também é um patrimônio em risco.
Gazeta Mercantil - É um produto com boa aceitação?
Existe um certo desconhecimento sobre a garantia que esse seguro dá. Tentamos explicar para o cliente quais os reais riscos a que ele está sujeito. O seguro vai cobrir custos advocatícios, que podem ser uma fortuna, e até disponibilizar verba específica para o executivo trabalhar a imagem e justificar sua ação ao mercado. Mas por causa dos acontecimentos recentes a procura deverá continuar forte.
Gazeta Mercantil - E o desempenho geral da corretora?
Com certeza haverá redução de demanda e postergação de alguns projetos na economia real, embora a extensão da crise ainda não esteja muito clara. Apesar disso, a Marsh vê grande potencial de crescimento na América Latina e, especificamente, no Brasil, México e Colômbia, onde apostamos em boas oportunidades de negócios, aquisições e associações. Vamos crescer 15% em prêmios no Brasil, onde estão concentradas 25% das nossas operações na região. Somente em novos negócios, devemos avançar 33% em relação ao ano passado. Até agosto, este índice era de 52%.
Gazeta Mercantil - A atuação da empresa também muda num contexto de incerteza maior?
Não podemos fazer tudo para todos a qualquer preço e a qualquer custo. É preciso se posicionar como advisory [consultor]. É importante primeiro entender o negócio do cliente, os seus desafios de concorrência, de legislação, as suas preocupações; depois entender a operação por si só; e a partir daí olhar para os riscos, identificar quais são os mitigáveis, quais fazem parte do negócio e quais têm viabilidade para serem assumidos. O seguro acaba sendo a última etapa de uma análise de gestão de risco. É uma oportunidade única para uma empresa como a Marsh. Para as empresas em geral, também se torna mais relevante a conscientização do gerenciamento de risco.
Gazeta Mercantil - Esse olhar também vale para o mercado aberto de resseguros? O setor sofrerá com a crise financeira?
A abertura traz para o Brasil uma série de oportunidades e responsabilidades. No passado, empresa com boa ou mal sinistralidade não era nem beneficiada nem penalizada. Agora o risco tem que ser apresentado de forma transparente e profissional. É aí que a Marsh pode atuar bem. Quanto ao cenário, a capacidade do mercado será a primeira parte a ser afetada. Já houve retração e aumento de taxas em determinados produtos, especificamente seguro de D&O e crédito. As resseguradoras estão preocupadas com a subscrição do risco e demonstram excesso de zelo nas informações solicitadas para a tomada decisão de cobertura.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Luciano Máximo)

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