Os brasileiros descobriram na previdência privada uma importante alternativa de investimento para garantir um futuro mais tranqüilo. São, hoje, perto de 9 milhões de participantes e, somente em 2007, 1 milhão de investidores fizeram novos planos. No primeiro semestre de 2008, os fundos de previdência privada tiveram captação recorde de R$ 15,3 bilhões, um aumento de 23,3% em relação ao primeiro semestre de 2007, de acordos com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), entidade que reúne 89 empresas do setor.
"O mercado está em franca expansão", comemora Juvêncio Braga, diretor de vida e previdência da Caixa Vida e Previdência, uma das principais operadoras do mercado, que acusou um crescimento das contribuições de 20% neste ano. Nas outras administradoras, o otimismo também impera, com taxas de expansão iguais ou maiores do que as da Caixa. No Bradesco, houve um aumento de 20% na captação em 2008. No Unibanco, o crescimento, apenas no segmento pessoa física, foi de 50%. No HSBC, o percentual foi de 111%.
Na Brasilprev, do Banco do Brasil (com participação acionária do Principal Financial Group e do Sebrae), o crescimento das contribuições foi de 31,3% e os ativos sob gestão atingiram R$ 18,3 bilhões no final do primeiro semestre, um valor 30,4% superior ao de igual período do ano passado. "Em apenas 76 dias, a Brasilprev ampliou o volume de ativos sob sua gestão em R$ 1 bilhão", comemora Tarcísio Godoy, presidente da empresa.
O crescimento econômico tem favorecido enormemente a previdência privada. Com a expansão do emprego e da renda, tem sobrado mais dinheiro para o brasileiro investir. Além disso, a estabilidade econômica proporciona uma visão de longo prazo. As pessoas começam a olhar para o futuro - e percebem que viverão mais e a aposentadoria do INSS não será suficiente. Os fundos de previdência privada surgem como alternativa primordial nesse cenário, principalmente por conta das vantagens fiscais, na redução de impostos imediata ou futura. "Esses benefícios fiscais ficam cada vez mais claros para o investidor", afirma Braga.
Com isso, os planos de previdência têm se mostrado razoavelmente resistentes a turbulências. Enquanto os fundos de investimento, como um todo, tiveram saques líquidos de R$ 20,3 bilhões em julho (e R$ 10,7 bilhões no acumulado do ano), a captação líquida dos fundos de previdência ficou positiva em R$ 396,8 milhões no mesmo mês (e R$ 10,7 bilhões no ano). "Esse é um fato fenomenal. O investidor amadureceu e consegue entender que a volatilidade momentânea não o afetará no longo prazo", diz Antonio Cássio dos Santos, presidente da Fenaprevi.
Os administradores de fundos de previdência têm percebido que os investidores deixam cada vez mais tempo o seu dinheiro no investimento. Na Unibanco AIG, por exemplo, há uma permanência de 98% do saldo, se considerados os últimos 12 meses, nos produtos considerados de aposentadoria. Os resgates são maiores naqueles fundos criados para quem apenas quer diversificar a carteira e fazer contribuições esporádicas - como o caso de quem recebe um bônus ou aplica num plano de previdência com objetivos de médio prazo.
Há muitos estímulos para o investidor deixar o seu dinheiro nos fundos de previdência por mais tempo. Em primeiro lugar, muitos fundos têm liquidez mais restrita - só podem ser resgatados a cada 60 dias. Em segundo lugar, há um limite de 49% para aplicação em ações, o que acaba por restringir a volatilidade dessas aplicações. Em terceiro, nos planos empresariais, em que o funcionário e empresa entram com aportes, quase não há saques. Em quarto lugar, cada vez mais os investidores aderem à tabela regressiva, em que a alíquota do Imposto de Renda diminui com o tempo de permanência no plano. Se o dinheiro for resgatado antes de o plano completar dois anos, a alíquota é de 35%. Mas esse percentual vai caindo ao longo do tempo até chegar a 10% nos resgates acima de dez anos. No Bradesco, a proporção de investidores que aderem hoje à tabela regressiva é de 30%, o dobro em relação a 2004, quando a opção por esse regime tributário foi criada.
No entanto, não dá para dizer que os fundos de previdência são totalmente imunes à crise. Na HSBC Seguros, por exemplo, houve uma queda de 8% nas vendas novas no mês de agosto - além de uma taxa de 5% de resgate e uma redução em 10% na arrecadação dos planos já existentes. "Não foi um percentual significativo. Mas algumas pessoas ainda verificam a variação na bolsa e confundem. No longo prazo, a bolsa sempre ganha", avalia Fernando Moreira, CEO da HSBC Seguros. Braga, da Caixa, acredita que uma boa maneira de resolver essa questão é mudar a forma de divulgação dos fundos de previdência. "Se é um investimento de longo prazo, por que se preocupar com as cotas diárias e comparar com a rentabilidade do CDI?", questiona.
Outro efeito da crise foi um aumento de conservadorismo. Na maior parte dos administradores de fundos de previdência privada, pode se sentir uma mudança no perfil médio das aplicações, com maior concentração na renda fixa. Na Bradesco e Vida Previdência, hoje o percentual dos novos planos em renda variável não passa dos 10%. Há dois anos, chegava a 30%. "Para quem já tem PGBL e VGBL, a mudança é bem pequena, mas, nas novas aplicações, as pessoas têm procurado a renda fixa", afirma Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Vida e Previdência. Mas há exceções. Na Unibanco AIG Seguros e Previdência, a procura por fundos com perfil moderado/agressivo cresceu 50%. Na Brasilprev, a participação dos fundos compostos (que contêm ações) passou de 7% em janeiro de 2007 para 39% em julho de 2008.
A mudança de perfil e comportamento dos clientes indica uma consistência cada vez maior. As pessoas estão ingressando mais cedo nos planos de previdência e fazendo aplicações mais polpudas. Há cinco anos, diz Rossi, a média etária era de 40 anos na Bradesco Vida e Previdência. Atualmente, está na faixa dos 35 anos. O valor médio das contribuições mensais é hoje de R$ 280, um crescimento de 30% em relação a quatro anos atrás. "Os brasileiros estão percebendo que, se quiserem uma proteção no seu futuro, têm que optar pela previdência privada", afirma Rossi.
Cada vez mais sofisticados, os administradores de fundos PGBL e VGBL lançam produtos para grandes investidores e, ao mesmo tempo, planos populares, para atingir a emergente classe C. "É lógico que as pessoas de alta renda têm maior capacidade de poupança, mas a previdência também vem interessando à baixa renda. Nosso desafio é continuarmos aproveitando a oportunidade de crescimento na Classe C", diz o presidente da Bradesco.
Na Brasilprev, há planos a partir de R$ 25. A empresa calcula que 5 milhões dentre 26 milhões de clientes do Banco do Brasil são propensos a fazer um plano de previdência. Mas, hoje, apenas 2 milhões são clientes da administradora. "Demora um pouco para esses planos atingirem a baixa renda, mas acredito que o mercado vai continuar crescendo à taxa de dois dígitos", afirma Tarcísio Godoy, presidente da Brasilprev. A HSBC Seguros pensa em criar planos de previdência popular e microprevidência. Enquanto o primeiro seria mais voltado às classes B e C, o segundo atingiria às classes D e E. A idéia é não só trabalhar com parcelas mensais baixas como facilitar o acesso ao produto, por meio de diversos canais, como o celular.
Entre as novidades bem-sucedidas criadas recentemente, vale destacar os planos para menores e os planos de ciclo de vida. Os planos para menores têm os maiores índices de crescimento do mercado. De acordo com dados da Fenaprevi, eles tiveram uma expansão de 39,77% no primeiro semestre, em relação à igual período do ano passado, com captação de R$ 959,6 milhões. Os planos batizados de "ciclo de vida" também têm agradado.
Fonte: Valor Econômico, 25/08/08
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
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