Em função dos meus dois últimos artigos publicados nessa coluna semanal, o corretor de seguros Henrique Elias me pediu que escrevesse um terceiro, usando o exemplo das geladeiras, para explicar porque o preço do seguro varia de apólice para apólice, inclusive quando se tratam de apólices iguais, emitidas pela mesma companhia de seguro.
Confesso que achei o tema redundante mas, depois, pensando melhor, conclui que o corretor está certo e que o assunto pode ser um pouco mais explicado.
Toda geladeira, em princípio, gela, por isso mantém os alimentos conservados por mais tempo e faz gelo. Também costumam ser um grande armário hermeticamente fechado, com uma ou mais portas, que a pessoa instala na sua copa ou cozinha.
Mas as semelhanças acabam aí. E as geladeiras, em função da marca, de suas características como tamanho e material utilizado, da forma como são comercializadas, da loja, da localidade, da garantia, etc., podem ter grandes diferenças de preço, até quando se trata de dois aparelhos exatamente iguais.
Uma loja que compra maiores quantidades de geladeiras costuma ter preços melhores das indústrias. Um financiamento com prazos mais longo costuma ter juros mais altos e promoções bancadas pelos revendedores podem diminuir estes custos. E por aí vamos, com outros fatores como frete, seguro, armazenamento, impostos, aluguéis, etc., também interferindo no preço final do produto.
Com os seguros acontece exatamente a mesma coisa, mas com algumas agravantes. A primeira é que, ao contrário das geladeiras, não existem seguros iguais. Existem seguros semelhantes.
Ainda que as apólices sejam comercializadas pelo mesmo canal, tenham o mesmo clausulado, os bens segurados sejam idênticos e os riscos contratados também, ainda assim os seguros não serão iguais, mas apenas semelhantes.
Não existem dois segurados iguais porque não existem duas pessoas iguais. Então não existem riscos iguais. E as diferenças entre os riscos impedem que existam dois seguros iguais.
Tendo isso claro, vale avançar na direção de outras premissas que impactam os preços dos seguros. A diferença entre as seguradoras é um fator importante. Os serviços oferecidos e o atendimento dado ao segurado têm custos diferentes. O canal de distribuição do seguro interfere no preço final. O local do risco ou da contratação do seguro também interfere.
Além disso, promoções para aumentar a participação da seguradora no faturamento de uma carteira, sinistralidade inesperada, seguros mal precificados, bônus dos segurados, descontos em função de outros seguros, campanhas de marketing usando apólices de seguros como diferencial podem fazer com que os preços de determinados seguros oscilem ao longo do tempo.
RISCOS
Alguns anos atrás, eu fiz uma palestra num evento para corretores de seguros, patrocinado por duas seguradoras. Comparando as patrocinadoras, eu chamei a atenção para o fato de ali termos dois exemplos opostos, um de uma seguradora bem sucedida e outro de uma seguradora fadada a desaparecer.
Apesar de ser criticado por alguns participantes, principalmente pela minha falta de cortesia com quem pagava a festa, menos de um ano depois a seguradora que eu previ que quebraria foi liquidada pela Susep.
As razões eram óbvias: uma companhia pequena, querendo ganhar volume rapidamente e que por isso pagava comissões de corretagem muito acima das praticadas pelo mercado, trabalhava com corretores pouco idôneos, aceitando riscos mal selecionados e oferecendo seguros com preço muito abaixo do real.
Hoje, em função do trabalho da Susep e da profissionalização do mercado, este quadro dificilmente se repetiria, mas não custa nada o segurado prestar atenção em quem ele está confiando. Quem é a seguradora, quem o está assessorando e o que ele está comprando. Seguro é contraprestação futura.
Ou seja, o segurado paga antes para receber depois. Se lhe oferecerem um negócio mirabolante, desconfie. Não se esqueça que bom atendimento tem preço. E que a seguradora e o corretor de seguros só podem trabalhar bem se ganharem mais do que gastam no dia a dia.
Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia, professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas(FGV) e comentarista da Rádio Eldorado.
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sexta-feira, 19 de setembro de 2008
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