sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Os bastidores do resgate da gigante AIG

Durante três horas na terça feira à noite, a diretoria da American international Group Inc. debateu intensamente a oferta do governo americano: um empréstimo de US$ 85 bilhões, em troca da cessão do controle da seguradora.
Os diretores ficaram muito espantados com essa proposta tão "onerosa", como definiu um deles. Também reagiram mal à ordem de substituir o diretor-presidente Robert Willumstad e protestaram contra o tratamento, que consideraram muito severo, por parte do governo federal. Um dos diretores disse que estava se sentindo "violado".
"Não é papel do governo federal adquirir uma enorme empresa privada", disse Martin Feldstein, um dos diretores da AIG e ex consultor econômico do presidente Ronald Reagan. Enquanto a diretoria debatia se era melhor arriscar um pedido de falência - que poderia causar o caos nos mercados financeiros globais - Willumstad definiu claramente o dilema. "Temos duas opções igualmente ruins", disse ele à diretoria, segundo uma autoridade da AIG. "Podemos pedir falência amanhã de manhã, ou então aceitar a oferta do Fed hoje à noite". Às 19h50 Willumstad deu um telefonema e aceitou a proposta.
A onda que tomou conta de Wall Street neste fim de semana continuou a atingir o sistema financeiro, e na terça-feira acabou derrubando uma das maiores seguradoras dos Estados Unidos. Ainda não é claro onde vai parar essa devastação. O resultado desses dias tumultuados, até o momento, é que o governo americano assumiu o controle da AlG, assim como das gigantes hipotecarias Fannie Mae e Freddie Mac - em acordos realizados sem a aprovação do Congresso e com muito pouca análise preliminar das contas. Duas veneráveis firmas de Wall Street, Lehman Brothers Holdings Inc. e Merrill Lynch l' Co., também foram obrigadas a sair de cena.
Como mostra o colapso da AIG, as firmas fracas continuam sendo as mais vulneráveis, e seu fim pode chegar muito depressa. A tomada da empresa pelo Federal Reserve, o banco central americano, não estava em pauta antes da sexta feira. Durante o fim de semana, Willumstad queixou-se aos colegas que as autoridades governamentais não estavam levando seus avisos a sério. No sábado, o Secretario do Tesouro Henry Paulson disse aos banqueiros interessados em financiar a AIG que o governo não tinha "uma noção clara da extensão do problema".
Na terça-feira, como não havia propostas de financiamento privado, as autoridades federais concluíram que o risco de deixar a AIG abrir falência seria maior do que os frágeis mercados financeiros poderiam suportar. Essa última operação de salvamento,
porem, provocou uma reação excepcionalmente vigorosa por parte do congresso. Vários parlamentares temiam que a crise estivesse saindo fora de controle, levantando dúvidas sobre qual será a envergadura das futuras ações do governo federal.
Em muitos aspectos, a AlG estava saudável. O problema surgiu dos prejuízos em uma divisão que vendia um tipo complexo de derivativo, chamado swap de credito, destinado a proteger os investidores contra a inadimplência em toda uma série de ativos, inclusive hipotecas de alto risco. 05 prejuízos de US$ 18 bilhões obrigaram a AIG a apresentar bilhões de dólares como caução, causando grave erosão em seus recursos financeiros. O rebaixamento ditado pelas agencias de classificação de risco e a pressão implacável que derrubava o preço das ações exacerbaram a posição da empresa, jã periclitante.
Em 15 de junho Willumstad assumiu como diretor-presidente. Desde que foi preterido para o cargo mais alto no Citigroup, Willumstad sempre quis dirigir uma grande empresa, e garantiu à diretoria que até inicio de setembro apresentaria um plano de ação, para decidir em quais ramos a AIG deveria continuar atuando.
No entanto, o turbilhão financeiro que se seguiu matou esse cronograma. No início de Setembro Willumstad decidiu que a AIG precisava levantar capital rapidamente, depois de descobrir que havia bilhões em prejuízos resultantes da crise imobiliária. "Os buracos que temos que tapar são grandes demais, e precisamos levantar capital", disse ele a Jamie Dimon, diretor-presidente da JPMorgan Chase e seu ex-colega do Citigroup.
No início da semana passada Willumstad foi conversar com Timothy Geithner, presidente do Federal Reserve (banco central) de Nova York. Como seguradora, a AIG não tinha acesso às operações de empréstimo especial de emergência do Fed, e Willumstad queria discutir esse assunto. Geithner perguntou como estava a situação da AIG e Willumstad respondeu que a seguradora passava por "graves problemas de liquidez".
Durante a semana a crise da AIG se agravou. A firma tentou seguir seu objetivo de divulgar umplanoderecuperaçãoem25 de setembro. No entanto, suas ações caíram 31% na sexta-feira e a Standard & Poor's advertiu que poderia rebaixar sua classificação de crédito, dificultando ainda mais qualquer obtenção de empréstimo.
Ela tinha o fim de semana para conseguir fundos e continuar operando - mas encontrou secos os mercados que até pouco tempo atrás estavam abundantes. O resultado foi a maior de uma série de ações recentes do governo para Socorrer Wall Street -e os mercados globais.

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